sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Falta de tempo de postar...vai texto de Clarice. Por sinal, muito belo...


Um dia um mestre perguntou aos seus discípulos: - Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas? Os homens pensaram por alguns momentos. – Porque perdemos a calma – disse um deles – Por isso gritamos. – Por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando estás aborrecido? Os homens deram algumas respostas, mas nenhuma delas satisfez o mestre. Finalmente ele explicou: Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poder escutar-se. (...) Em seguida perguntou: - O que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas se falam suavemente. Por que? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Quando se enamoram, acontece mais alguma coisa? Notem que quase não falam, somente sussurram, e ficam cada vez mais perto do seu amor. Finalmente, não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas... (Clarice Lispector)

sábado, 29 de setembro de 2007

O estado das coisas ou o senso comum

É incrível constatar, cada dia mais, que somos uma grande manada sem direção, que necessita do vaqueiro, ou do pastor para conduzir, direcionar, dizer para onde ir. Não somos tão liberados, livres assim como pensamos. Isso é sufocante nessa sociedade rápida, superficial. Escrevo isso porque tem dia que me canso desse estado das coisas que cumpre uma ordem pré-estabelecida, segue caminhos já traçados e vai como boiada a qualquer lugar, sem pensar se o caminho é bonito, ou se existe um outro caminho mais condizente com o próprio estado de ser, com o próprio bom senso. Aliás, bom senso é um termo cada dia menos usado e praticado. Fico estarrecida ao ler um artigo no jornal sobre um acidente de carro em que o responsável pelo imbróglio tentou esquivar-se de sua responsabilidade por ser filho do dinheiro, ops, de um pai portador de abastança econômica. Não entendo mais o mundo. Parece que assumir as próprias responsabilidades só acontece quando isso não vai me gerar desconforto ou prejuízo.

Tenho tentado me destituir desse mundinho de pessoas de plástico, superficiais, que prezam mais o parecer das coisas do que propriamente o ser. Não compactuo com isso e não pretendo ficar engolindo esse mundinho pequeno burguês, atrevido, narcíseo, voltado para o próprio umbigo, estagnado, falso, superficial. Gosto mais de um mundo menor, menos rápido, mais qualitativo. A minha terra gira em um ritmo diferente, menos veloz. Acredito que assim posso ver melhor o azul do céu e o rosto dos passantes. Dá pra sentir melhor as pessoas, as suas angústias, seus estados de espírito, a diversidade do mundo, a sua complexidade e, o melhor, deliciar-se com o que ainda há de belo ao redor, com a beleza do verdadeiro ser humano que percebe as sutilezas de uma caminhada ao lado de. Prefiro assim, é melhor do que caminhar sozinho acreditando-se acompanhado só por estar no meio de uma multidão. Não curto isso, não gosto de multidão. Isso confunde o sentir, faz olhar e não ver. Gosto da vida, do lado bom dela e das pessoas. Quero que os que pensam minúsculo fodam-se, porque assim pode ser que eles percebam a grandeza e a beleza de SER humano.


Fortaleza, 20 de setembro de 2007